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Maricarmen Rodriguez, natural de Tui, estava à frente. Junto ao gradeamento. Do lado galego, a ponte centenária de Valença já tinha sido aberta mas ainda faltavam uns minutos para as barreiras do lado português serem levantadas. Dezenas de galegos atravessavam a ponte e, num ambiente de clara saudade, já diziam olá ao Minho.
“Tenho sobretudo saudades do café! O café português é muito melhor que o nosso”, disse-nos com uma gargalhada. “Todos os dias venho a Portugal tomar café”.
Em jeito de desabafo, Maricarmen admitiu que estes três meses de ponte fechada foram difíceis. Economica e psicologicamente duros. “Já tinha tantas saudades de Valença… de Vila Praia de Âncora”.
Ao lado, Angelez Alvarez também não disfarçava a alegria no rosto numa noite onde só quem lá esteve conseguiu sentir um sabor especial a liberdade. “Já tinha muitas saudades do Minho. Somos realmente o mesmo povo! Custou muito ver esta ponte fechada… esperemos que isso não volte a acontecer”, disse.
À medida que a meia-noite portuguesa se aproximava, portugueses e galegos conviviam em amena cavaqueira. Todos de máscara e tentando cumprir ao máximo as normas recomendadas pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Evidentemente feliz, o alcalde de Tui, Enrique Caballero acabou até por fazer uma confidência à Rádio Vale do Minho.
“Neste período tivemos ainda mais a consciência do quanto precisamos uns dos outros. Os galegos precisam dos portugueses e os portugueses dos galegos”, apontou. “É uma leitura positiva de um momento que serviu para consciencializar ainda mais esta zona transfronteiriça que partilha interesses comuns”, acrescentou.
Em sintonia, o presidente da Câmara de Valença, voltou a frisar o que já vinha defendendo. Uma reabertura que “peca por tardia”. “Fechar as fronteiras aqui durante três meses significa três anos no mínimo, para não dizer 30”, disse Manuel Lopes.
“Causou-nos um grande transtorno económico e psicológico. Há aqui uma carga psicológica muito grande onde as pessoas de repente deixaram de saber muito bem o que fazer só porque a fronteira se fechou de repente”, acrescentou o autarca valenciano.
Na barreira, a GNR ia cortando os arames que uniam as grades. Cada arame foi distribuído pelo povo como recordação de dias que não se desejam mais.
Em coro, fez-se a contagem decrescente. Meia-noite. Os dois presidentes de Câmara levantaram o primeiro segmento do gradeamento… e abriram a fronteira. O povo aplaudiu. Entre sorriso e alguma emoção, os galegos começaram a entrar em solo português. Seguiram-se os primeiros automóveis. O povo aplaudia. Rebentaram foguetes no céu.
De forma mais solene, os dois presidentes de Câmara atravessaram juntos a ponte até ao lado galego. Passavam também motas e bicicletas. Ouviam-se buzinas numa noite feliz. “Informo que a ponte de Valença foi reaberta sem incidentes”, informava um militar da GNR pelo intercomunicador.
O controlo das fronteiras terrestres com Espanha arrancou às 23h00 do dia 16 de março devido à pandemia da COVID-19. Terminou à meia-noite desta quarta-feira.
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