Tristes. Preocupados. De coração partido. É assim que se encontram Ihor Rubay e Ganna Mudrak – um casal ucraniano a residir em Monção há 18 anos. Dizem gostar muito de Portugal mas a Ucrânia sempre foi o seu país, obviamente.
Chegaram em busca de melhores condições de vida. Encontraram. Têm dois filhos, ainda crianças.
Até que chegou o dia em que o pior aconteceu. Pelas televisões, rádios, jornais e internet viram a terra natal a ser invadida por um país vizinho chamado Rússia.
Para além do choque provocado pela guerra propriamente dita, Ihor Rubay e a família sentiram ainda o coração mais destroçado ao confirmar quem era o invasor.
“Não dá para entender. A Ucrânia e a Rússia são dois povos irmãos! Há ucranianos casados com russas e com filhos e russos casados com ucranianas e também com filhos. A cultura é basicamente a mesma. Isto é como se Salvaterra [de Miño] estivesse a invadir Monção!”, exemplificou aludindo aos vizinhos galegos e portugueses.
Visivelmente triste, Ihor sublinhou continuamente que “a Ucrânia não tem nada contra a Rússia”. “Somos um país muito grande em área. Temos as nossas dificuldades e os ordenados são muito baixos. Mas amamos o nosso país”, frisou.
“O que Putin quer é ficar mais forte!”
A firmeza no tom de voz de Ihor deixava adivinhar as palavras seguintes. “Ninguém tem de meter-se na nossa vida. O que Vladimir Putin quer é ficar mais forte! Tem medo de parecer um fraco perante os Estados Unidos da América e perante a Europa. Por isso quer a Ucrânia… talvez numa ideia de recuperar a antiga União Soviética”, analisa.
Revoltado, Ihor Rubay deixa claro que “a Ucrânia é dos ucranianos!”.
“Imagine o medo constante de levar com uma bomba”
É na cidade de Lviv, que faz fronteira com a Polónia, que Ihor tem a maior parte da sua família. Nomeadamente a mãe, prima e sobrinhas.
Questionado sobre o nível de preocupação, o ucraniano foi taxativo. “Imagine o medo constante de levar com uma bomba”, disse.
“Toda a gente está apavorada”. Conforme têm mostrado as televisões, as mulheres e crianças estão já a abandonar a cidade. Os homens ficam para combater, caso seja necessário.
“Acho que a Ucrânia vai dar uma tareia à Rússia. Eu sinto e acho que todos sentimos de espírito e coração que os russos têm de ficar no país deles”, reiterou mas sempre lamentando que “somos povos irmãos”.
“Isto é coisa de políticos! Ninguém queria isto”, assegura.
“Ucrânia vai precisar muito da Europa”
Acabe a guerra como acabar, Ihor acredita que a Ucrânia vai sofrer e “vai precisar da ajuda financeira da Europa”.
“O meu coração está na Ucrânia”, prossegue a pensar uma vez mais na mãe e restante família. “A minha mãe não quer vir para cá e os outros também não. Só mesmo se não houver mais alternativas é que vêm para cá”.
Entretanto, lá ao longe, a guerra continua. Só nas últimas 48 horas, mais de 50 mil cidadãos abandonaram o país rumo, sobretudo, à Polónia e Moldávia. A União Europeia, Reino Unido e EUA anunciaram pesadas sanções a Putin e Lavrov e a NATO ativou, pela primeira vez, a força de reação rápida que inclui Portugal.
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